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Folhas Onduladas Queimam Mais Rápido e Produzem Mais Calor do que Folhas Planas 

This is the Portuguese version of the blog, “Curly Leave Burn Fast and Hot” which is available in English here.

Pela primeira vez, pesquisadores conseguiram separar o efeito da forma da folha daquele do tamanho da folha para entender melhor o como queimam as folhas secas de árvores do Cerrado.

Um esforço colaborativo entre a Universidade Estadual da Carolina do Norte, o Instituto de Pesquisas Ambientais do Estado de São Paulo e a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, no Brasil, mostrou que a ondulação das folhas, e não apenas seu tamanho, contribui para a intensidade de fogo. Isso ocorre porque as folhas que se enrolam mais quando secam são capazes de criar bolsas de ar na camada de serapilheira, alimentando melhor as chamas.

Os pesquisadores usaram paquímetros e um scanner 3D como uma nova maneira de medir a “ondulação das folhas” de cada espécie de árvore estudada. Uma nova abordagem  geométrica permitiu que eles separassem os efeitos da forma da folha do tamanho da folha para ver como isso influenciava a queima. Em seguida, queimaram folhas de cada espécie em uma estrutura especialmente construída para esse fim e mediram a intensidade do fogo. Pilhas com folhas macias e onduladas tinham bolsões de ar que queimavam mais rápido, com as chamas mais quentes do que as pilhas com folhas menores e com pouca ou nenhuma ondulação.

“Se você jogar uma revista inteira em uma chama para iniciar um incêndio, provavelmente vai matar a chama, mas se você arrancar cada uma das páginas, amassá-las e jogá-las, é mais provável que ocorra um incêndio”, diz Sam Flake, bolsista do programa pesquisadores de mudanças globais do Centro de Adaptação Climática do Sudeste (SE CASC) em 2019-20, autor do estudo. 

Mas como é que o formato das folhas no Brasil se relaciona com a adaptação climática no Sudeste dos Estados Unidos?

O fogo desempenha um papel crucial na manutenção da estabilidade de muitos ecossistemas no sudeste dos Estados Unidos. Por exemplo, as savanas de pinheiros de folhas longas são hotspots de biodiversidade que abrigam muitas plantas e animais ameaçados de extinção, como, por exemplo, pica-paus vermelhos. As savanas são caracterizadas por copas de árvores espaçadas sobre ricos sub-bosques de vegetação herbácea e o fogo mantém esse equilíbrio entre as copas e as plantas do estrato rasteiro. Os pinheiros de folhas longas são resistentes ao fogo e dependem das queimas  para remover outras espécies arbóreas  que, de outra forma, tomariam conta da paisagem. O fogo também ajuda na rebrota da vegetação rasteira, cujas plantas e animais são exclusivos daquela região e estão bem adaptados ao regime de queima.

No entanto, as savanas em todo o sudeste americano estão sendo densamente  invadidas por espécies de árvores intolerantes ao fogo, que têm serapilheira mais úmida e densa. O formato dssas novas folhas evita que ocorra o ciclo frequente de fogo das savanas. Com menos incêndios, mais plantas intolerantes ao fogo são capazes de se estabelecer nas savanas, levando à perda de plantas tolerantes ao fogo que precisam de muita luz no sub-bosque.

“Os modelos atuais de combustão são bastante grosseiros e não são capazes de incorporar os diferentes aspectos das espécies de árvores em uma área. Portanto, este estudo traz avanços ao  integrar informações espécie-específicas na modelagem de incêndios. Em síntese, a incorporação das formas das folhas nesses modelos pode melhorar as previsões do comportamento do fogo em qualquer região do mundo”, diz Flake.

O próximo passo é levar esses resultados dos laboratórios do Brasil para o campo no sudeste dos Estados Unidos. Os sistemas naturais têm muitos outros fatores que influenciam a intensidade do fogo, mas ser capaz de separar os atributos forma e tamanho da folha e medir a sua ondulação possibilita acessar uma nova dimensão para entender o comportamento do fogo.

O artigo, “Ligando características foliares e inflamabilidade da serapilheira por meio de  uma nova abordagem, testada com árvores do Cerrado brasileiro”, foi publicado no periódico Functional Ecology em março de 2025. Os co-autores do artigo são Patrick J. Elliot e William A. Hoffman, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, Giselda Durigan, do Instituto de Pesquisas Ambientais do Estado de São Paulo, e Davi R. Rossatto, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, da UNESP.